“Santo Antônio da Batalha,
Faz de mim batalhador...”
O dia de hoje me trouxe o cheiro dela.
Água de cheiro na saída do banho, perfume nas dobras, mas isso era o que ela colocava.
Por baixo disso tinha um cheiro de especiaria, de açúcar queimado e uma coisa azul, aguada, espalhada.
Dona Thereza me ensinou os primeiros quês e porquês da vida. O mundo não permitia que minha mãe ficasse com a gente, então ela assumiu os cuidados cotidianos.
Da labuta do tanque e da máquina de costura para o baralho de tarô e o altar do Santo Antônio, ela transpirava a maresia que me fortalecia.
Fé. Unhas feitas, um capricho “de velha”.
Fortaleza. A vidência em um copo de água e milagres em contas de lágrimas-de-nossa-senhora.
Alegria. O sorriso que fazia covinhas e a cerveja na mão nos dias de festa.
Um amor bruto e suave.
Minha avó. Minha matriarca. Meu exemplo de tanta coisa para ser igual e meu impulso de tanta coisa para ser diferente.
A quem eu prometi ser tudo que eu pudesse.
A quem eu dei adeus antes de ser qualquer coisa.
Santo Antônio da Batalha, faz de mim batalhador, dizia a devota aos pés do santo.
Santo Antônio da Batalha, guarde a mim e aos meus.
E dá um beijo aí nessa bochecha corada e risonha, diz pra ela que eu tô tentando e que um dia a gente se vê de novo.
Bença, vó.


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