Caminhar no labirinto é libertador.
A Senhora do Labirinto permite a entrada, caminha com você e ouve suas preces.
A mulher-deusa. Tantas lendas, tantos nomes.
Ariadne e o fio mágico.
A Deusa do Labirinto.
Caminhar no labirinto é mágico.
É confiar no que não se vê. Saber que não importa quantos passos errados, quantas escolhas malfeitas...sempre existe uma saída. Você não encontrou ainda, mas ela existe.
Respirar. Caminhar. Confiar. Orar.
A Senhora do Labirinto reza com você.
Deus caminha com você no labirinto.
(Labirinto verde, Nova Petrópolis, RS - 2017)
Fibromialgia - a dor da alma
em
28 de maio de 2018
Fibromialgia.
A dor invisível.
Sem explicação.
“Dor da alma”, “Tristeza no corpo”, “Tortura”.
Nenhum exame, nenhum sinal, nada além de dor e um histórico que precisa de um ouvido atento e um médico que veja uma pessoa e não um número.
Os ossos doem, os músculos doem, a sua pele inteira dói.
Não dá pra abraçar, não dá para ficar muito tempo em uma posição, mas não tem nada no seu exame! Seu rosto dói até para comer, o chinelo incomoda no pé.
Perceber que as pessoas a sua volta simplesmente não entendem como você está sempre com dor. Se nem os médicos entendem, como você vai cobrar delas que entendam que não, não é para chamar atenção, não é exagero, não é enxaqueca, não é coluna, não é gripe?
Não dormir. Mesmo. Achar ótimo quando você dorme 2h no total, em períodos de 30/40 minutos por vez.
Não dormir. Não relaxar. Não descansar.
Não dormir significa não raciocinar direito, esquecer coisas simples, sentir que está perdendo a memória, ficar irritado o tempo todo.
A dor como companhia constante torna você uma pessoa pior, sem paciência, triste e desanimada.
Há dias melhores e dias piores, com muitos dias difíceis no meio.
Dias onde tudo que você quer é tomar mais um comprimido (ou dois, ou três) e dormir o tempo todo.
Dias onde tudo parece um pouco mais leve e o seu corpo até parece seu de novo.
Dias onde a dor fica suportável e você luta contra a tristeza, sorri e se diverte, quase parecendo normal.
Dias em que você acredita que passou e que você nunca mais vai sentir aquilo.
Dias onde você não se reconhece e chora por perceber que está se tornando alguém detestável.
Há dias melhores e dias piores, com muitos dias difíceis no meio.
Dias onde tudo que você quer é tomar mais um comprimido (ou dois, ou três) e dormir o tempo todo.
Dias onde tudo parece um pouco mais leve e o seu corpo até parece seu de novo.
Dias onde a dor fica suportável e você luta contra a tristeza, sorri e se diverte, quase parecendo normal.
Dias em que você acredita que passou e que você nunca mais vai sentir aquilo.
Dias onde você não se reconhece e chora por perceber que está se tornando alguém detestável.
Fibromialgia.
Aquela coisa que faz você dar um novo sentido ao mantra “vai passar”.
Aquela coisa que faz você dar um novo sentido ao mantra “vai passar”.
Intervenção federal pra quem?
em
25 de maio de 2018
"O CIDADÃO DE BEM NÃO PRECISA TER MEDO DA INTERVENÇÃO FEDERAL."
Sério, eu queria saber o que a galera que posta isso (e que acredita nisso!) tá comendo, bebendo, cheirando ou fumando. Em que mundo eles vivem.
Porque assimmmmmm....eu tô ouvindo GERAL falando que vai ser uma merda, até porque o pessoal mais velho, que viveu a época da ditadura de verdade (sem estar num apê em Ipanema ou viajando pra Zoropa) tá aí pra dizer a merda que foi. E não, o pessoal mais velho não serve só para gastar dinheiro da Previdência, tá? Eles são a História viva do país, não aquilo que escreveram nos livros.
Cês realmente acham que numa blitz do Exército vai rolar um "boa noite, senhora, posso ver seus documentos?" ou um "rapaz, bom dia, você está indo para a escola?" ???????
EM QUE MUNDO VOCÊS VIVEM?
Eu nem vou falar do quanto essa manobra (MANOBRAAAAAA) é uma cortina de fumaça para a manipulação das decisões mais importantes do momento político que o país está vivendo. Nem vou questionar que o Estado está na merda não só em segurança, mas em educação e saúde e mandar a caralha dos médicos militares para dar plantão nos hospitais ninguém quer.
Eu tô falando dos meus filhos adolescentes voltando do shopping à noite e tomando tapa na cara de milico.
"Ahhhh isso não vai acontecer..."
MANO, isso já acontece na favela. E vai acontecer em todo canto.
Eu tô falando de mídia e imprensa censuradas.
Eu tô falando de direito de ir e vir.
Eu tô falando de preto, pobre, gay apanhando na rua e não podendo sequer reclamar.
Eu tô falando que vamos ver essa merda acontecer e não podemos recorrer a NINGUÈM, porque a autoridade ali é o Exército, a Marinha e Aeronáutica que estão atuando.
Foi exatamente assim que um monte de gente SUMIU nos porões da ditadura. FOI ONTEM , gente.
Pergunta a sua avó, seu avô, aquele tio velho.
Parem.
Por favor, parem.
Compactuar com isso é desmerecer todo o sofrimento de quem viveu a ditadura, é apostar de novo em uma ideia que já deu errado lá atrás.
Vai morrer inocente.
Vai morrer soldado.
Vai morrer PM.
Só não vai morrer quem efetivamente produz o estado de violência que vivemos: os grandes que traficam armas pelas fronteiras e que trazem drogas de helicóptero.
Sério, eu queria saber o que a galera que posta isso (e que acredita nisso!) tá comendo, bebendo, cheirando ou fumando. Em que mundo eles vivem.
Porque assimmmmmm....eu tô ouvindo GERAL falando que vai ser uma merda, até porque o pessoal mais velho, que viveu a época da ditadura de verdade (sem estar num apê em Ipanema ou viajando pra Zoropa) tá aí pra dizer a merda que foi. E não, o pessoal mais velho não serve só para gastar dinheiro da Previdência, tá? Eles são a História viva do país, não aquilo que escreveram nos livros.
Cês realmente acham que numa blitz do Exército vai rolar um "boa noite, senhora, posso ver seus documentos?" ou um "rapaz, bom dia, você está indo para a escola?" ???????
EM QUE MUNDO VOCÊS VIVEM?
Eu nem vou falar do quanto essa manobra (MANOBRAAAAAA) é uma cortina de fumaça para a manipulação das decisões mais importantes do momento político que o país está vivendo. Nem vou questionar que o Estado está na merda não só em segurança, mas em educação e saúde e mandar a caralha dos médicos militares para dar plantão nos hospitais ninguém quer.
Eu tô falando dos meus filhos adolescentes voltando do shopping à noite e tomando tapa na cara de milico.
"Ahhhh isso não vai acontecer..."
MANO, isso já acontece na favela. E vai acontecer em todo canto.
Eu tô falando de mídia e imprensa censuradas.
Eu tô falando de direito de ir e vir.
Eu tô falando de preto, pobre, gay apanhando na rua e não podendo sequer reclamar.
Eu tô falando que vamos ver essa merda acontecer e não podemos recorrer a NINGUÈM, porque a autoridade ali é o Exército, a Marinha e Aeronáutica que estão atuando.
Foi exatamente assim que um monte de gente SUMIU nos porões da ditadura. FOI ONTEM , gente.
Pergunta a sua avó, seu avô, aquele tio velho.
Parem.
Por favor, parem.
Compactuar com isso é desmerecer todo o sofrimento de quem viveu a ditadura, é apostar de novo em uma ideia que já deu errado lá atrás.
Vai morrer inocente.
Vai morrer soldado.
Vai morrer PM.
Só não vai morrer quem efetivamente produz o estado de violência que vivemos: os grandes que traficam armas pelas fronteiras e que trazem drogas de helicóptero.
Covardia e a morte de mais uma criança
em
21 de maio de 2018
Morre uma criança de 5 anos espancada pelos pais.
A escola já tinha acionado o conselho tutelar.
A avó já tinha reclamado.
Vizinhos já tinham comentado.
É tem gente que não percebe que a origem do espancamento é a mesma do tapinha na bunda. É foda, eu sei, porque eu também já pensei assim e foi doloroso desconstruir e perceber que sim, eu podia fazer diferente e não estaria criando bandidos para a polícia bater.
Ah, mas um tapa na mão ou uma chinelada na bunda para educar é diferente de espancar!
NÃO, NÃO É!
Vamos falar de uma coisa parecida aqui, traçar um paralelo.
Em 2008 foi instituída a Lei Seca.
Até aí, todo mundo podia beber e dirigir, certo? Após a lei, não pode, nem uma tacinha para brindar e nem encher a cara a ponto de não enxergar o meio fio.
Poxa, mas precisava limitar tanto?
Sim. Qualquer pessoa que trabalhe em atendimento a emergências em hospitais vai te dizer que melhorou MUITO com a lei. Tem gente que continua e ainda dribla as blitzes? Tem, mas sempre vai ter um escroto e nosso papel é fazer com que ele seja a exceção.
Onde está a correlação? No limite.
Limite é subjetivo e pessoal, tem gente que bebe uma taça e não sente nada e tem gente que com dois copos de cerveja tá caindo. Mas ainda assim a tacinha é crime.
A violência contra crianças segue o mesmo padrão: ninguém pode bater em criança. Ninguém. É LEI.
Não importa se é surra de cinto (que eu tomei varias), ou se é tapinha na mão.
Você não bate no seu colega de trabalho que suja a pia para educar o infeliz e ele aprender a não sujar.
Então....
Mais uma vez toda a rede de proteção falhou com uma criança.
E na raiz dessa falha está a ideia que “mãe e pai sabem o que fazem” ou “pé de galinha não mata pinto”: adultos sendo omissos em relação a uma criança sendo maltratada.
Enquanto isso não mudar, enquanto a gente não entender que é COVARDIA e é CRIME, enquanto a gente não educar sem violência, teremos essa sociedade doente que vivemos.
A escola já tinha acionado o conselho tutelar.
A avó já tinha reclamado.
Vizinhos já tinham comentado.
É tem gente que não percebe que a origem do espancamento é a mesma do tapinha na bunda. É foda, eu sei, porque eu também já pensei assim e foi doloroso desconstruir e perceber que sim, eu podia fazer diferente e não estaria criando bandidos para a polícia bater.
Ah, mas um tapa na mão ou uma chinelada na bunda para educar é diferente de espancar!
NÃO, NÃO É!
Vamos falar de uma coisa parecida aqui, traçar um paralelo.
Em 2008 foi instituída a Lei Seca.
Até aí, todo mundo podia beber e dirigir, certo? Após a lei, não pode, nem uma tacinha para brindar e nem encher a cara a ponto de não enxergar o meio fio.
Poxa, mas precisava limitar tanto?
Sim. Qualquer pessoa que trabalhe em atendimento a emergências em hospitais vai te dizer que melhorou MUITO com a lei. Tem gente que continua e ainda dribla as blitzes? Tem, mas sempre vai ter um escroto e nosso papel é fazer com que ele seja a exceção.
Onde está a correlação? No limite.
Limite é subjetivo e pessoal, tem gente que bebe uma taça e não sente nada e tem gente que com dois copos de cerveja tá caindo. Mas ainda assim a tacinha é crime.
A violência contra crianças segue o mesmo padrão: ninguém pode bater em criança. Ninguém. É LEI.
Não importa se é surra de cinto (que eu tomei varias), ou se é tapinha na mão.
Você não bate no seu colega de trabalho que suja a pia para educar o infeliz e ele aprender a não sujar.
Então....
Mais uma vez toda a rede de proteção falhou com uma criança.
E na raiz dessa falha está a ideia que “mãe e pai sabem o que fazem” ou “pé de galinha não mata pinto”: adultos sendo omissos em relação a uma criança sendo maltratada.
Enquanto isso não mudar, enquanto a gente não entender que é COVARDIA e é CRIME, enquanto a gente não educar sem violência, teremos essa sociedade doente que vivemos.
Cura
em
18 de maio de 2018
Cura é processo.
Começa com uma casquinha, bem fina...essa casquinha esconde a ferida dos olhos do mundo.
Aí ela vai engrossando, protegendo o machucado. A ferida tá ali, cicatrizando aos poucos.
A casquinha garante à ferida o tempo que ela precisa para se fechar.
A casquinha, muitas vezes, é um sorriso. É um "tá tudo bem". É um "vai passar".
E de sorriso em sorriso, de casquinha em casquinha, as feridas vão cicatrizando.
Com tempo.
Com carinho.
Com muita vontade de sarar.
Começa com uma casquinha, bem fina...essa casquinha esconde a ferida dos olhos do mundo.
Aí ela vai engrossando, protegendo o machucado. A ferida tá ali, cicatrizando aos poucos.
A casquinha garante à ferida o tempo que ela precisa para se fechar.
A casquinha, muitas vezes, é um sorriso. É um "tá tudo bem". É um "vai passar".
E de sorriso em sorriso, de casquinha em casquinha, as feridas vão cicatrizando.
Com tempo.
Com carinho.
Com muita vontade de sarar.
Mãezona da porra
em
12 de maio de 2018
Gente, olha só.
Não existe PÃE.
Existe uma mãe sobrecarregada porque o babaca do homem abandonou o filho, coisa bem comum na nossa cultura machista e patriarcal.
Nenhuma mãe faz papel de pai.
Ela faz o papel DELA, de mãe, cuidadora e responsável pela criança.
Ela fica exausta, ela chora, ela trabalha além do que deveria, ela tem menos tempo para ela, ela não se cuida física e nem emocionalmente, ela se cobra demais e tem ajuda de menos.
Por mais rede de apoio que ela tenha, a responsabilidade integral sobre uma criança é toda dela, com toda a carga mental que isso exige e que é FODA.
Pai não é emprego, não é estado civil, não é visita quinzenal, não é favor. Pai é responsabilidade.
Se você não teve um pai que fizesse a parte dele, a sua mãe teve que fazer tudo sozinha.
Isso faz dela uma MÃEZONA DA PORRA, não uma pãe.
Parem de masculinizar até o esforço da mulher para tapar os buracos de homens babacas.
Não existe PÃE.
Existe uma mãe sobrecarregada porque o babaca do homem abandonou o filho, coisa bem comum na nossa cultura machista e patriarcal.
Nenhuma mãe faz papel de pai.
Ela faz o papel DELA, de mãe, cuidadora e responsável pela criança.
Ela fica exausta, ela chora, ela trabalha além do que deveria, ela tem menos tempo para ela, ela não se cuida física e nem emocionalmente, ela se cobra demais e tem ajuda de menos.
Por mais rede de apoio que ela tenha, a responsabilidade integral sobre uma criança é toda dela, com toda a carga mental que isso exige e que é FODA.
Pai não é emprego, não é estado civil, não é visita quinzenal, não é favor. Pai é responsabilidade.
Se você não teve um pai que fizesse a parte dele, a sua mãe teve que fazer tudo sozinha.
Isso faz dela uma MÃEZONA DA PORRA, não uma pãe.
Parem de masculinizar até o esforço da mulher para tapar os buracos de homens babacas.
02 de fevereiro ou 01 de maio? Tudo Yemoja
em
1 de maio de 2018
Odô Iyá!
Mais um ano, mais um ciclo.
Mais águas rolaram, mais tsunamis e calmarias.
Sou uma mulher de Yemoja, nesta vida e em todas que eu viver. E o orgulho que sinto ao dizer essas palavras não cabe em mim: extrapola e sobra em forma de lágrimas, as lágrimas feitas da mesma água salgada que eu.
Não dá para colocar em palavras o que é ser de Yemoja.
Não posso descrever a sensação da maresia, o canto das ondas e o farfalhar da areia a cada passo.
Não posso explicar o que é ser feita de Águas, mover-se com ela, inundar e fluir e afogar e respirar e estar envolto todo o tempo pela certeza de algo que não se compreende.
Em minhas veias corre sangue e maresia, lateja o amor imenso da minha Mãe, a Senhora que me guarda, me ensina e me ama certamente mais do que eu mereço.
Yemoja é Mãe, é a grande Mãe de todos.
Dos filhos que nascem das suas águas, é mãe zelosa, carinhosa, bruta, exigente. As águas não são paradas: são instáveis, ora marola ora ressaca. Assim é o amor de Yemoja: ele muda, mas está sempre ali, não nos abandona.
Yemoja é a dona da minha vida, senhora do meu destino.
Vivo de acordo com a vontade Dela, e por essa vontade, procuro ser melhor: por ela, para ela, com ela.
Meu escudo, minha fortaleza, meu colo, meu paraíso: minha Mãe, que enxuga minhas lágrimas, me dá força para viver e coloca um sorriso no meu coração. Aquela que sussurra baixinho seu Amor na forma das bênçãos que me dá.
Yemoja me fez coletiva: uma família grande, estranha, complicada, com amor demais, com laços diversos e tantos sorrisos. Me fez nascer em um ventre de Oxum, para eu fosse protegida de todo o mal e de todo feitiço. Me deu um coração do Encanto, me deu luz e alegria.
Yemoja me deu um parceiro que eu não sabia que me faltava até ele chegar, me deu um companheiro para dividir a vida que eu tinha e construir uma vida nova, de mãos dadas.
Yemoja me fez mãe.
De todas as coisas que eu poderia ser, a melhor foi ser mãe. A maior expressão do amor dela é o brilho nos olhos dos meus filhos, tão dela quanto meus.
Me fez mãe dos meus e mãe dos outros, me deu filhos de coração, de afeto e fez com que eu me sentisse forte por eles.
Yemoja me deu filhos não como âncoras, mas como bússola: por eles, eu sempre acharei o caminho.
Yemoja me deu mais que amigos, mais que irmãos: me deu companheiros de estrada, amores que caminham comigo e me fazem ser eu, quando eu fraquejo. Eles são presentes imensuráveis, porque Ela sabe o que eu preciso mais do que eu mesma.
Meus pedacinhos de alma, poeira da mesma estrela, cada um do seu jeito. Todos meus e todos de mim, porque somos bosque.
Yemoja me ensinou a força do feminino, muito mais do que do ser mulher. Me ensinou o afeto e o poder que nasce de um círculo de mulheres, a força da criação e do apoio.
Yemoja me fez forte, me fez difícil, me fez teimosa.
Me deu capacidade de pensar do lugar do outro. Me deu coerência e sensibilidade.
Mais que tudo, me deu FÉ.
Nela. Em mim, nos outros, na vida.
Essa fé me sustenta e me alimenta.
Meu riso é Dela, minhas vitórias são Dela e Dela são minhas lágrimas.
Obrigada, Iyá.
Por mim e pela Senhora.
Por ser minha, por me deixar ser sua, por ser tantas vezes eu.
Tantas vidas eu tivesse, tantas eu lhe daria.
Odô Iyá!
Mais um ano, mais um ciclo.
Mais águas rolaram, mais tsunamis e calmarias.
Sou uma mulher de Yemoja, nesta vida e em todas que eu viver. E o orgulho que sinto ao dizer essas palavras não cabe em mim: extrapola e sobra em forma de lágrimas, as lágrimas feitas da mesma água salgada que eu.
Não dá para colocar em palavras o que é ser de Yemoja.
Não posso descrever a sensação da maresia, o canto das ondas e o farfalhar da areia a cada passo.
Não posso explicar o que é ser feita de Águas, mover-se com ela, inundar e fluir e afogar e respirar e estar envolto todo o tempo pela certeza de algo que não se compreende.
Em minhas veias corre sangue e maresia, lateja o amor imenso da minha Mãe, a Senhora que me guarda, me ensina e me ama certamente mais do que eu mereço.
Yemoja é Mãe, é a grande Mãe de todos.
Dos filhos que nascem das suas águas, é mãe zelosa, carinhosa, bruta, exigente. As águas não são paradas: são instáveis, ora marola ora ressaca. Assim é o amor de Yemoja: ele muda, mas está sempre ali, não nos abandona.
Yemoja é a dona da minha vida, senhora do meu destino.
Vivo de acordo com a vontade Dela, e por essa vontade, procuro ser melhor: por ela, para ela, com ela.
Meu escudo, minha fortaleza, meu colo, meu paraíso: minha Mãe, que enxuga minhas lágrimas, me dá força para viver e coloca um sorriso no meu coração. Aquela que sussurra baixinho seu Amor na forma das bênçãos que me dá.
Yemoja me fez coletiva: uma família grande, estranha, complicada, com amor demais, com laços diversos e tantos sorrisos. Me fez nascer em um ventre de Oxum, para eu fosse protegida de todo o mal e de todo feitiço. Me deu um coração do Encanto, me deu luz e alegria.
Yemoja me deu um parceiro que eu não sabia que me faltava até ele chegar, me deu um companheiro para dividir a vida que eu tinha e construir uma vida nova, de mãos dadas.
Yemoja me fez mãe.
De todas as coisas que eu poderia ser, a melhor foi ser mãe. A maior expressão do amor dela é o brilho nos olhos dos meus filhos, tão dela quanto meus.
Me fez mãe dos meus e mãe dos outros, me deu filhos de coração, de afeto e fez com que eu me sentisse forte por eles.
Yemoja me deu filhos não como âncoras, mas como bússola: por eles, eu sempre acharei o caminho.
Yemoja me deu mais que amigos, mais que irmãos: me deu companheiros de estrada, amores que caminham comigo e me fazem ser eu, quando eu fraquejo. Eles são presentes imensuráveis, porque Ela sabe o que eu preciso mais do que eu mesma.
Meus pedacinhos de alma, poeira da mesma estrela, cada um do seu jeito. Todos meus e todos de mim, porque somos bosque.
Yemoja me ensinou a força do feminino, muito mais do que do ser mulher. Me ensinou o afeto e o poder que nasce de um círculo de mulheres, a força da criação e do apoio.
Yemoja me fez forte, me fez difícil, me fez teimosa.
Me deu capacidade de pensar do lugar do outro. Me deu coerência e sensibilidade.
Mais que tudo, me deu FÉ.
Nela. Em mim, nos outros, na vida.
Essa fé me sustenta e me alimenta.
Meu riso é Dela, minhas vitórias são Dela e Dela são minhas lágrimas.
Obrigada, Iyá.
Por mim e pela Senhora.
Por ser minha, por me deixar ser sua, por ser tantas vezes eu.
Tantas vidas eu tivesse, tantas eu lhe daria.
Odô Iyá!



