Mar
em
15 de janeiro de 2014
Sou feita de pedra, a pedra que pesa, que firma, que dá sustentação.
Sou feita de ar, o vento que cavalga as ondas e muda tudo em segundos.
Sou feita de fogo, esse fogo que aquece e alimenta.
Porém, antes de tudo, sou feita de água.
A água salgada corre em minhas veias e dilui o sangue dos meus ancestrais, me fazendo tanto uma criatura sua quanto deles.
Meu suspiro é maresia.
Conchas me enfeitam, a espuma me cura de todo o mal do mundo.
Águas me rodeiam, me alcançam, me envolvem.
O barulho das ondam enchem meus ouvidos e calam meu coração.
Sou, porque elas me querem assim.
Abandono
Nada mais triste e mais desesperançado que o abandono.
A ausência onde deveria haver presença.
O vazio de mãos, abraços, cheiros e beijos.
O nada onde existiu um mundo inteiro.
A falta de sentir que antagoniza com o excesso de emoções, todas conflitantes e para as quais não há alívio.
Um olhar quieto que mascara a inquietude íntima, mas de um cuidado enorme com essa intimidade agora tão solitária.
A morte do sonho, da fé depositada, da confiança entregue feito mão de criança na nossa.
Tão pouco.
Tão imenso.
Sorrisos
em
10 de janeiro de 2014
Hoje bateu uma saudade doída de ler poesia e sorrir.
Dores passam, risos se calam. Sorrisos permanecem, em momentos que se tornam marcantes apenas pelo sorriso que despertam.
Eu sorrio em horas talvez estranhas, talvez impossíveis. Sorriso, para mim, é dádiva, é arte, é presente, é conforto.
Eu sorri na despedida da mulher mais forte que já conheci, minha avó. Sorri ao me lembrar das suas mãos me acarinhando, dos bolos prediletos, do seu sorriso ao me ver chegar, da sua necessidade de me educar para que eu fosse uma mulher íntegra.
Eu sorri. Sorriso de apego e tristeza. Te vejo do outro lado, tá?
Eu sorri ao passar pela porta de casa com meus filhos. Três filhos, três situações, três chegadas...e cada uma delas um sorriso diferente. De fé, de glória, de certezas.
Eu sorri ao ver minha família numa emergência de hospital. Mãos apertadas, corações também. Sorri. Um sorriso de tranquilidade e cuidado.
Eu sorri no meu renascimento. Um sorriso de água salgada, de maresia, de juramentos e de entrega.
Eu sorri ao me declarar ao mundo como casada. Sorri para o mundo, para ele e para mim. Sorriso de cumplicidade e parceria.
Sorrisos são armas, são pontes, são barreiras.
São linguagem. Minha, sua, de qualquer um, qualquer lugar cabe um sorriso.

