Intenções

em 29 de novembro de 2012

"De boa intenção o inferno está cheio."

Quantas vezes ouvimos ou dissemos essa frase?
Com diferentes entonações, com diferentes intenções. É disso que se trata, na verdade: intenção.

O que é intenção?
Ter vontade de fazer alguma coisa? Se comprometer em fazer? Querer fazer?
Eu tenho a intenção de acordar em Las Vegas, ganhar uma fortuna no cassino e viver 10 anos como se o mundo fosse acabar amanhã.
Tenho a intenção de virar natureba e viver de luz e sol.
Tenho a firme intenção de perder 10 kg.
Tenho a intenção de voar.
E de tudo isso, o que fica? A intenção, somente.
Intenção é esperança.
Saímos de casa com ela e de vez em quando a perdemos no caminho.
Esperamos chegar a tempo para aquela reunião, mas o trânsito não ajuda.
Esperamos chegar em casa cedo e o mercado está lotado.
Esperamos fazer um bom trabalho, mas o assistente perde os documentos.
Esperamos sair pra jantar, mas o filho fica com febre.
Esperamos um dia de paz, mas a fila anda e a vida segue, cheia de intenções.

Qual é a real diferença entre boa e má intenção?
Quando um amigo dá um conselho, pode ser com a melhor das intenções, mas o efeito é desastroso. Aí você descobre que na verdade o amigo já sabia do resultado...boa intenção?
Quando nos esforçamos para fazer aquele bolo maravilhoso, mas ficamos com preguiça de comprar o ingrediente certo e adaptamos alguma coisa...boa intenção, mas lá no fundo a gente sabe que o bolo não vai ficar tão maravilhoso.
Quando dizemos a uma amiga que ela está linda, sabendo que o vestido não a favorece, só pra convencer a moça a sair de casa e deixar a depressão de lado. Má intenção? Mais, por favor.


Intenção é ter esperança.
Ter vontade é uma outra coisa, às vezes bem diferente.

Sonhos - o que faz a gente sonhar?

em 28 de novembro de 2012

Eu sempre acreditei em sonhos.
Não necessariamente em significado, essas deduções ilógicas de que sonhar com isso significa aquilo. 
Sempre acreditei na importância de sonhar para viver.
Sempre achei que sonho era necessidade, para manter a sanidade mental.
Costumo desejar aos meus amigos que sonhem. E que a cada sonho realizado, se encontre mais um motivo para sonhar outra coisa.
Sonho é imprescindível. Realizar alguns sonhos liberta a alma para sonhar outros, para tentar, para lutar e viver na expectativa gostosa de fazer o novo sonho se realizar.
Sonhar não é ilusão, ou talvez seja.
Sonho não precisa ser realizável, possível ou mesmo nosso: já sonhei sonhos de outros, porque divagar sobre a vida alheia é uma atividade presente também nos sonhos, porque não?

Sonhar é manter em si o lúdico, a imaginação solta, a alegria de conquistar uma coisa especial.
Sonho é desejo, é vontade, é imaginar , é delírio.
Sonho é ser o que se quiser. E até o que não se quer, só pra ver como é.
Sonhos de viagem, de mudança, de alegrias. De formaturas, de amores impossíveis.
Sonhos de tudo.

E hoje me pego pensando em como os meus sonhos se tornaram diferentes, ou se tornaram apenas reflexos das necessidades cotidianas.
Percebo que o meu sonho não é mais um desejo. É necessidade de suprir carências diárias.
Me surpreendo pensando em tudo que sonhei, tudo que desejei.
Aliás, me pego sonhando.
Sonhando em ter a liberdade de voltar a sonhar por mim, sem a necessidade de adequar, até nos sonhos, toda uma realidade que existe e depende, solicita, esgota e cansa. Que alegra, que completa, que emociona.
Sonhando em acordar de um pesadelo real, onde sonhos não existem mais, tamanha a dor da realidade.
Sonhando em descobrir que meu único sonho realizado não aconteceu.
Sinto um enorme buraco onde antes moravam meus sonhos. Onde eles foram?
Imagino o que eu sonharia, se pudesse.
Sonhar por mim.
Pensar em mim.
Fazer para mim.
Seria possível realizar um sonho pessoal, sem cobranças, sem expectativas?
Ser somente UMA coisa que deu certo, não esse tipo de dar certo porque funciona bem, mas deu certo do jeito certo, como eu queria, como eu planejei.
Como eu sonhei.
Sonhos. Necessidades. Ilusão.
Vida.



Superação

em 23 de novembro de 2012

A palavra do dia é SUPERAR.

Segundo definição do dicionário:
v.t. Passar por cima; passar além; ser ou ficar superior; sobrelevar-se: superar a expectativa.
Vencer, subjugar, dominar, dobrar: superar a resistência do adversário.
Fazer desaparecer, remover, resolver: superar todas as dificuldades.

É isso.
Vou passar por cima das dificuldades.
Vou passar além dos problemas.
Vou ser ou ficar superior aos que me querem mal.
Vou sobrelevar-me aos maldosos.
Vou superar a expectativa dos que acham que me conhecem.
Vou vencer a luta.
Vou subjugar o inimigo.
Vou dominar a mim mesma.
Vou dobrar o cuidado.
Vou superar a resistência do adversário e vencê-lo.
Vou fazer desaparecer a dor.
Vou remover o medo.
Vou resolver as pendências.
Vou superar todas as dificuldades e permanecer eu mesma.
Porque no final de todas as contas, é sempre isso que importa: ser eu mesma.
Ser a pessoa que se conhece, que se ama e que é capaz de muita coisa que as pessoas não acreditam.
Por talento ou teimosia, vou ser feliz.

Papai do Céu

em 14 de novembro de 2012

Papai do Céu, não esqueça de mim, que sou tão esquecida.
Esqueci até de dar atenção a certas idiotices que me irritam, esqueci de deixar os outros me aborrecerem, esqueci de pedir opinião a quem não se importa comigo.
Esqueci de contar as horas tristes, esqueci de pensar em problemas e consegui esquecer por alguns minutos a vida que eu queria e pensar na vida que eu tenho.
Esqueci de todos para pensar em mim, Papai do Céu.
Esqueci pessoas, fatos, coisas. Esqueci dores e sorrisos.
Papai do Céu, esqueci.
Esqueci de não querer mais o que tenho direito.
Esqueci de tentar ser outra pessoa.
Esqueci dos motivos para mudar meu jeito de ser.
Papai do Céu, não esqueça de mim que esqueci de muita coisa.
Mas que lembro do meu Papai do Céu e lembro de mim, como eu devo ser.
Esqueci a moça boazinha, a mamãe dedicada, a esposa, a filha, a nora, a irmã.
Esqueci até a amiga!
Esqueci que tenho que dar conta do recado, esqueci que tenho que qualquer coisa.
E por algum tempo esquecido, voltei a ser só eu.
E acho que esqueci de deixar de ser.
Papai do Céu, não me deixe mais esquecer

Sexta

em 11 de novembro de 2012

O relógio contava pouco mais de 7 horas da manhã de sexta-feira quando a casa caiu por descuido e curiosidade, a destempo, na minha cabeça. A informação e as palavras eram certeiras e inesperadas como um tiro. Levei dez minutos chorando compulsivamente, de raiva como pretexto, de desequilíbrio como peculiaridade, até lembrar que não era só eu ali. E que isso era mais uma nas histórias da minha vida, só que em cores mais fortes e dores mais sentidas. Daquelas que eu acho que de maneira sui generis nunca chegam ao fim e inauguram um tipo de decepção.

Decepção que seria demonstrada na confirmação desnecessária, numa voz seca e que deixasse poucas dúvidas, na fuga precipitada pelo temor de um encontro ou confronto. E haveria um confronto. E haveria um encontro. E não tardaria que eu explodisse, em fúria, disparando merecidos insultos, de um jeito que não lembro de ter dito a ninguém antes, no avesso do que eu realmente esperava pra pouco mais de doze horas antes daquela manhã fatídica. Decepção de se emprestar inteira, em todas as nuances, pra um envolvimento clichê mas nada convencional, que seria visto como frívolo e preterido por essa "facilidade" (anunciada numa conversa, em tom de zombaria, imagino...).
Em algo eu sempre erro, eu sei, é assim em todas as histórias e também nas lembranças que tenho delas, então posso dizer que, se a memória não me falha, eu fiquei descalça. Só pra ter certeza de que voltaria a ter os pés no chão, dali em diante. E naquele projeto de despedida interior acenei a cabeça em um gesto de reprovação por tudo que me feriu tão prematuramente no último momento daqueles 15 minutos que tudo durou. Por tudo que eu soube, sem poder perguntar ou querer oportunizar a explicação de motivos daquela atitude de filho da puta, nos termos do que vociferei duas ou três vezes, entre os dentes para não chamar a atenção.

Mais algumas providências a tomar e lágrimas a derramar.

Falar ao telefone como se não me importasse com a situação. Mas eu me importava.

Depois de conseguir o batalhado espaço para sofrer, depois de ter o luxo do tempo onde nada mais precisava ser feito, a luxúria de deixar a comporta se abrir e o sofrimento escorrer. Deixar o luto correr nas minhas veias pela morte do que era precioso: eu mesma.

Deixar-se ser dor.

Eu só deixei ser. Eu só deixei ser, pensando que algumas conversas nessa vida você não precisava ter tido.
Eu só deixei ser, como foi desde o início, como deixei ser amor.
Mas aparentemente "deixar ser" também tem um preço.
Um preço caro, como eu soube às 7 de sexta.

E essa sexta ainda está aqui.

Reflexão sobre a religião

em 31 de outubro de 2012

A denominação "maternidade/paternidade" é objeto de grandes questões nas religiões de matriz africana, como Umbanda e Candomblé.
Uma vez que a tradição do povo-de-santo exige que o sacerdote/sacerdotisa seja tratado comumente como Pai/Mãe, os seguidores se tornam automaticamente Filhos, devedores de respeito e obediência como nas relações carnais.
A grande questão envolvida aí é que em geral os praticantes já se iniciam na religião após certa idade, com personalidade formada, com educação e valores incutidos- a sua educação de "berço"- e com suas experiências pessoais que não são as mesmas que seus assim chamados "irmãos", nem mesmo que seu "pai/mãe". Como a vida no terreiro é uma vida comunitária, é necessário uma adequação e um entrosamento entre as pessoas envolvidas, para que esse convívio seja harmonioso. Entra aí em ação a chamada "educação de axé", onde o pai/mãe vai criar um nível aceitável de exigências comportamentais para garantir essa harmonia da casa-de-santo.
Em alguns casos, essa relação pais/filhos transcende o religioso e cria raízes na vida pessoal, com pais participando do dia-a-dia dos filhos e vice-versa, em uma convivência estreita e prazerosa para ambos.
Essa relação se torna perfeita em sua aplicação.
Em outros casos, essa relação se restringe ao espaço da casa-de-santo, nos dias de função religiosa, onde pais e filhos convivem harmoniosamente durante o tempo necessário para o cumprimento das funções ritualísticas. Isso pode acontecer até em função da distância física entre a casa e o terreiro, porém em alguns casos o motivo para essa separação entre sagrado e mundano é a diferença de valores e a falta de vontade de uma convivência mais estreita, devido a diferenças de estilo de vida, por exemplo.
Por quê essa dificuldade?
Diferenças de opinião, de criação, de valores, de vontade.
A conotação pai/mãe é extremamente pessoal e na maioria das vezes tem a ver com valores aprendidos com esses entes na vida pessoal.
Se uma pessoa tem pai/mãe presentes, amorosos e companheiros, não vai aceitar uma relação tirânica com a mesma denominação.
Se tem pais ausentes, não vai ter a noção do respeito envolvido nessa relação.
O sentido mais amplo de paternidade/maternidade é o comprometimento intrínseco exigido tanto de pais, como mantenedores da relação, quanto de filhos, seguidores e submissos ao poder dos pais.
Um sentido mais estreito é o do papel de cuidador embutido na denominação pai/mãe: é aquele que cuida de alguém, que zela por alguém. E o filho se enquadra na situação de dependentes desse cuidado, que será dado a ele pelo pai/mãe.
Quando essa relação acontece dentro de um contexto religioso, limitado pelo espaço-tempo da casa-de-santo, acontecem conflitos no entendimento de direitos e deveres de pais e filhos, uma vez que essas relações são baseadas em tradições hierárquicas que normalmente não prezam pela transparência em seus métodos. Conversas francas sobre delimitação de espaços emocionais e exigências de ambos os lados são praticamente impossibilitadas pela própria natureza de uma relação onde há poder sobre o outro.
O que se espera de um pai/mãe?
O que se espera de um filho?
Ou um pouco mais além: o que se espera de uma relação onde a dependência é necessária como parte da tradição, mas essa mesma dependência fica à mercê dos desejos e conveniências de um detentor do poder  e do saber?
Uma religião iniciática e hierárquica - essa é a definição básica do Candomblé.
Onde um neófito precisa do poder de um sacerdote para ser iniciado e depende dos ensinamentos dados a ele para subir os degraus da hierarquia.
Onde um sacerdote tem o poder de manipular a vida de alguém, mas aliado ao fardo da responsabilidade sobre o crescimento espiritual e pessoal de uma pessoa.
Uma relação baseada em poder e obediência, ambos cegos, ambos unilaterais, ambos limitados e ao mesmo tempo ilimitados.
Como encaixar essa relação em valores pessoais, cotidianos, em necessidades físicas e emocionais de pais e filhos?

Convido meus amigos religiosos a essa reflexão, lembrando que escrevo sobre a minha opinião, apenas, e cada olhar diferente é bem vindo.

Vivências


Hoje acordei com vontade de cantar, dançar e celebrar a vida.
Sim, essa mesma vida complicada, difícil e problemática que a gente tem.
Mas a gente vive.
E precisamos começar a dar valor a essas experiências, a essas alegrias, a essas incertezas.  Precisamos ver essas coisas como VIVÊNCIAS, que nem sempre são agradáveis - mas nos fazem crescer e aprender.
Aprendi, a duras penas, que tudo na vida tem dois lados. E que nem sempre esses lados são certo/errado. Às vezes, são apenas duas formas de ver ou viver uma mesma situação.

Um dos maiores confortos que temos durante nossa caminhada na vida são os relacionamentos que mantemos, sejam entre nossa família, nossos amigos ou um relacionamento amoroso.
E percebi que o maior empecilho nesses relacionamentos é a expectativa de que o outro faça aquilo que nós queremos, que nós esperamos, que nós até mesmo precisamos, mas baseado no NOSSO conhecimento da situação, que nem sempre é o mesmo conhecimento do outro.
Cada um tem seu próprio modo de ver e vivenciar situações e daí surge a diferença de reação: da forma de entender cada ação. Somos diferentes, portanto reagimos de forma diferente.
Com esse conhecimento, fica um pouco mais fácil lidar com a frustração - natural - gerada a partir da nossa expectativa e da falta de cumprimento dessa expectativa pelo outro.
Seguimos tentando entender o mecanismo que nos faz ter tanta necessidade de ter nossas expectativas atendidas pelos outros, mas não nos esforçamos para perceber a expectativa do outro em relação a nós: estou agindo de acordo com o esperado?

Vivências.
Experiências.
Quando percebemos que uma situação se repetiu em nossas vidas, mas nossa reação foi diferente.
Quando antecipamos uma reação nossa que seria desastrosa e freamos o ímpeto, tomando outra atitude.
Quando compreendemos uma ação de alguém sem que isso traga mágoa.
Quando não nos permitimos magoar o outro por um capricho.
Quando deixamos de nos magoar pelo capricho do outro.
Quando aprendemos a ouvir e realmente considerar os conselhos alheios, sem julgar se a pessoa tem idade/experiência/propriedade/competência ou não para nos aconselhar.

Isso tudo é amadurecimento.




Desapego

em 18 de outubro de 2012


  1. Segundo o Pai dos Burros, desapego significa indiferença, deixar de ter apego.
Eu, daqui, fico pensando o que é mesmo o tal do apego, tão desvalorizado nas religiões e seitas de amadurecimento espiritual.É um tal de "Tem que desapegar", "Pratique o desapego", "O apego faz mal ao espírito".
Por outro lado, tem aquele momento "Se apegue a Nossa Senhora", "Ele é apegado a mim".
E me lembro de Zeca Pagodinho cantando: "Tenho fé no meu apego".

O tal do apego é bom ou ruim, afinal?

Eu confesso que estou num momento "apegado".
Talvez seja efeito do trauma pós-acidente, sei lá, mas não consigo pensar em jogar nada fora, eu que sou a Maria Joga-Fora.

Preciso de tudo ao meu redor, uma sensação de normalidade na bagunça, um reconhecimento do meu mundo, meu espaço, minha vida - essa que quase ficou no carro, no poste, em um momento de distração ou imperícia.

Estou apegada até ao que não tenho mais: a mecha de cabelo que tiveram que raspar para dar pontos; a superfície lisa da minha testa, agora com um L que não existia; os movimentos rápidos e fáceis das minhas pernas, agora travadas em lesões e contusões e pontos.
Estou apegada, grudada feito chiclete, aos meus. 
Quero saber de todos, de tudo, onde estão, com quem, o que vão fazer amanhã - ainda que os planos não me incluam ou mesmo me digam respeito. 
Fuxico as redes sociais, querendo saber da vida alheia, pobre arremedo da vida que eu não posso levar por hoje.
Me divirto por tabela nas festas, viagens e aventuras dos meus amigos.
Leio as piadinhas como se as ouvisse em uma mesa de barzinho, entre latas de Coca e tulipas de chopp, sorrisos e alegria.
A tela do computador virou meu espelho mágico.
Sim, isso é passageiro. Não estou aqui fazendo estréia no Muro das Lamentações, não é da minha índole.
Mas é real nesse momento, pelo menos para mim.
Apego? Sim, obrigada. Porção dupla, por favor.


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