Sexta

em 11 de novembro de 2012

O relógio contava pouco mais de 7 horas da manhã de sexta-feira quando a casa caiu por descuido e curiosidade, a destempo, na minha cabeça. A informação e as palavras eram certeiras e inesperadas como um tiro. Levei dez minutos chorando compulsivamente, de raiva como pretexto, de desequilíbrio como peculiaridade, até lembrar que não era só eu ali. E que isso era mais uma nas histórias da minha vida, só que em cores mais fortes e dores mais sentidas. Daquelas que eu acho que de maneira sui generis nunca chegam ao fim e inauguram um tipo de decepção.

Decepção que seria demonstrada na confirmação desnecessária, numa voz seca e que deixasse poucas dúvidas, na fuga precipitada pelo temor de um encontro ou confronto. E haveria um confronto. E haveria um encontro. E não tardaria que eu explodisse, em fúria, disparando merecidos insultos, de um jeito que não lembro de ter dito a ninguém antes, no avesso do que eu realmente esperava pra pouco mais de doze horas antes daquela manhã fatídica. Decepção de se emprestar inteira, em todas as nuances, pra um envolvimento clichê mas nada convencional, que seria visto como frívolo e preterido por essa "facilidade" (anunciada numa conversa, em tom de zombaria, imagino...).
Em algo eu sempre erro, eu sei, é assim em todas as histórias e também nas lembranças que tenho delas, então posso dizer que, se a memória não me falha, eu fiquei descalça. Só pra ter certeza de que voltaria a ter os pés no chão, dali em diante. E naquele projeto de despedida interior acenei a cabeça em um gesto de reprovação por tudo que me feriu tão prematuramente no último momento daqueles 15 minutos que tudo durou. Por tudo que eu soube, sem poder perguntar ou querer oportunizar a explicação de motivos daquela atitude de filho da puta, nos termos do que vociferei duas ou três vezes, entre os dentes para não chamar a atenção.

Mais algumas providências a tomar e lágrimas a derramar.

Falar ao telefone como se não me importasse com a situação. Mas eu me importava.

Depois de conseguir o batalhado espaço para sofrer, depois de ter o luxo do tempo onde nada mais precisava ser feito, a luxúria de deixar a comporta se abrir e o sofrimento escorrer. Deixar o luto correr nas minhas veias pela morte do que era precioso: eu mesma.

Deixar-se ser dor.

Eu só deixei ser. Eu só deixei ser, pensando que algumas conversas nessa vida você não precisava ter tido.
Eu só deixei ser, como foi desde o início, como deixei ser amor.
Mas aparentemente "deixar ser" também tem um preço.
Um preço caro, como eu soube às 7 de sexta.

E essa sexta ainda está aqui.

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