Um ponto que sempre me chama atenção nas casas de candomblé que vou é a posturas dos visitantes.
Vejo enormes diferenças de comportamento entre visitantes da mesma casa, nas mesmas ocasiões. E até hoje não presenciei nenhuma com um "aviso" de regras de conduta, tão comuns em casas de Umbanda e de Kardecismo.
Já vi avisos separando, na platéia (?), homens e mulheres. Mas nunca vi uma cartilha de regrinhas, mesmo básica, tipo "desliguem os telefones" ou "não é permitido fotografar".
Vou escrever minhas regrinhas, minha opinião com base no que vejo e observo.
Regrinhas básicas quanto a roupas:
Masculino:
Não use modismos. Calça sarouel, camisa de time, braceletes de couro são para a balada, não para o candomblé. Calça e camisa, solução perfeita. Atenção quanto a cor: branco é sempre bem vindo. Se for festa de orixá funfun, é imprescindível.
Pano-da-costa é acessório feminino. Exclusivamente. Não importa o quanto seu lado feminino implore, se você não nasceu mulher, não use.
Cuidado com a roupa íntima. Cuecas são itens necessários, preferencialmente básicas e limpas. É extremamente desagradável para uma mulher ir vestir um orixá e se deparar com uma sunguinha vermelha fio-dental ou um tapa-sexo de oncinha. Nesse caso, menos NÃO é mais.
Feminino:
SAIA. Calças jamais serão serão bem vistas ou aceitas em uma casa-de-santo. O fim da picada é calça comprida com pano-da-costa e fio de conta. Se você entende o suficiente para ter um fio e um pano, tenha também vergonha na cara e não envergonhe os outros.
Decotes não combinam com casa de santo. Pense que você está indo louvar uma divindade. Realmente gostaria que Deus a visse assim?
Por favor...vestido de noite com torso de brilho e pano-da-costa combinando é brega, além de impróprio.
Cuidado na escolha de cores.
Modo geral:
Câmeras e telefones não são itens de primeira necessidade, mas fio de conta do seu santo é artigo de muito bom gosto.
Definitivamente, candomblé não é, ou não deveria ser, ponto de pegação. E sair para fumar não é desculpa pra trocar telefone ou dar em cima de ninguém.
Mantenha uma postura respeitosa, ainda que veja coisas que não conhece ou diferentes do que conhece. O que é estranho para você pode ser bom para seu orixá, e nada mais desagradável do que ver uma pessoa debochando e depois dando santo.
Se quiser cumprimentar um orixá durante a festa, pergunte a alguém da casa se é um bom momento. É horrível um santo estar dançando e tropeçar em um desavisado que resolveu bater cabeça no meio do barracão.
Na hora de comer, não aja como se estivesse chegando da Etiópia. Pior ainda é encher o prato e deixar tudo, desperdiçando comida.
Mas isso é educação, não regra de conduta.
Outra coisa muito importante: se você convidar alguém para ir a uma festa de candomblé, você é responsável por ela.
Portanto, oriente sua visita na forma de vestir e se comportar.
Candomblé é recinto sagrado.
Respeite.
Equívoco
Acaba a luz, ainda é dia, ele reclamando se estende no sofá.
Como se já não estivesse ali há dias. Como se fosse só o que faltava. Como se o sofá fosse um reduto pra sua solidão que grita, mesmo na minha companhia. Sem luz tudo faz mais barulho. Sai a luz, a televisão desliga sozinha e fica só a nossa distância imperando em todos os cômodos.
Nossa falta de assunto e minha pouca habilidade de agradá-lo com as minhas pautas. Como se no escuro do dia nossa falta de proximidade brilhasse tanto que cegasse. Com energia elétrica, somos dois separados pela tecnologia, pelas obrigações, pelas distrações. No escuro, somos os únicos culpados por não haver aproximação.
Vou fazer o almoço. Feijão, arroz e ovo frito. Não é o prato preferido, mas o microondas não funciona pra descongelar a carne e, como de costume, deixei as coisas pra última hora. Espero haver tempo pra sermos mais cúmplices na última hora. Aguardo a palavra que derreterá a geleira de um homem estirado no sofá, mão na cabeça, inatingível porque absorto pelos próprios problemas. Vasculho a geladeira e sinto falta de cenouras... Eu que nem gosto de cenouras. E me ocorre que talvez Gessinger tivesse razão quando compôs que "toda vez que falta luz o invisível nos salta aos olhos".
Sinto as mãos atadas pelos fios elétricos que agora não conduzem nada e é como se estivesse algemada ao topo de uma torre de alta tensão, perigosa, em que tudo fizesse de mim um tanto medrosa: A queda, o choque, a distância. Impossível ajudá-lo daqui.
Entram pela janela raios tímidos da luz de um sol que não dará conta de aquecer o chuveiro, quando depois de tudo um banho frio me esperar.
Precisamos despertar do transe, precisamos de uma insistência sem fé nenhuma, mas a força não volta. Esperamos que qualquer medo nunca rime com coragem, esperamos que à luz ou no escuro não fiquemos expostos, dilacerados como estamos pela vida, cada um ao seu modo.
Volta a luz, todos os eletrodomésticos religam e fazem seus barulhos, a experiência não se apaga. Retomamos a rotina de distrações iluminadas, mas ficamos indelevelmente marcados pelo dia em que, sem luz e sem tato pra qualquer reaproximação, nos damos conta da fragilidade cotidiana de um amor que não supre a distância contida na mesma sala de estar.
Como se já não estivesse ali há dias. Como se fosse só o que faltava. Como se o sofá fosse um reduto pra sua solidão que grita, mesmo na minha companhia. Sem luz tudo faz mais barulho. Sai a luz, a televisão desliga sozinha e fica só a nossa distância imperando em todos os cômodos.
Nossa falta de assunto e minha pouca habilidade de agradá-lo com as minhas pautas. Como se no escuro do dia nossa falta de proximidade brilhasse tanto que cegasse. Com energia elétrica, somos dois separados pela tecnologia, pelas obrigações, pelas distrações. No escuro, somos os únicos culpados por não haver aproximação.
Vou fazer o almoço. Feijão, arroz e ovo frito. Não é o prato preferido, mas o microondas não funciona pra descongelar a carne e, como de costume, deixei as coisas pra última hora. Espero haver tempo pra sermos mais cúmplices na última hora. Aguardo a palavra que derreterá a geleira de um homem estirado no sofá, mão na cabeça, inatingível porque absorto pelos próprios problemas. Vasculho a geladeira e sinto falta de cenouras... Eu que nem gosto de cenouras. E me ocorre que talvez Gessinger tivesse razão quando compôs que "toda vez que falta luz o invisível nos salta aos olhos".
Sinto as mãos atadas pelos fios elétricos que agora não conduzem nada e é como se estivesse algemada ao topo de uma torre de alta tensão, perigosa, em que tudo fizesse de mim um tanto medrosa: A queda, o choque, a distância. Impossível ajudá-lo daqui.
Entram pela janela raios tímidos da luz de um sol que não dará conta de aquecer o chuveiro, quando depois de tudo um banho frio me esperar.
Precisamos despertar do transe, precisamos de uma insistência sem fé nenhuma, mas a força não volta. Esperamos que qualquer medo nunca rime com coragem, esperamos que à luz ou no escuro não fiquemos expostos, dilacerados como estamos pela vida, cada um ao seu modo.
Volta a luz, todos os eletrodomésticos religam e fazem seus barulhos, a experiência não se apaga. Retomamos a rotina de distrações iluminadas, mas ficamos indelevelmente marcados pelo dia em que, sem luz e sem tato pra qualquer reaproximação, nos damos conta da fragilidade cotidiana de um amor que não supre a distância contida na mesma sala de estar.
Juramento
Algumas coisas são sagradas por si só.
O sentido delas, sua própria existência, as tornam sagradas.
O amor de pai e mãe, amor de irmão, amor incondicional por um ser que geramos.
O nosso eu. A nossa fé em algo maior que nós. Nossos valores.
Tudo isso não precisa de compromisso: está intrínseco.
Outras coisas se tornam sagradas a partir de um compromisso, assumido por nós e em nós. Compromisso que às vezes é solitário.
Fiz três grandes juramentos em minha vida.
Jurei sobre a cabeça de uma criança que a Vida me confiou: juramento de proteção e dádiva.
Jurei sobre um anel de ouro: compromisso de parceria, para sempre.
E eu jurei sobre uma pedra.
Para os que sabem. Os que entendem. E os que valorizam.
Bênção!
O sentido delas, sua própria existência, as tornam sagradas.
O amor de pai e mãe, amor de irmão, amor incondicional por um ser que geramos.
O nosso eu. A nossa fé em algo maior que nós. Nossos valores.
Tudo isso não precisa de compromisso: está intrínseco.
Outras coisas se tornam sagradas a partir de um compromisso, assumido por nós e em nós. Compromisso que às vezes é solitário.
Fiz três grandes juramentos em minha vida.
Jurei sobre a cabeça de uma criança que a Vida me confiou: juramento de proteção e dádiva.
Jurei sobre um anel de ouro: compromisso de parceria, para sempre.
E eu jurei sobre uma pedra.
Para os que sabem. Os que entendem. E os que valorizam.
Bênção!
